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    O Palhaço 11º Capítulo

    Continuação do 5º Episódio

    2489 Jornal A Bigorna 02/05/2018 10:29:00

    A cidade cintilava.

    A noite caíra abruptamente num questão de horas sufragadas pelo tempo. No interior da casa do investigador, o carro do IML já estava esperando para transladar o corpo. Uma força tarefa da Polícia Federal chegara quase junto com a equipe da delegacia, afinal, um protegido pelo governo jazia morto, sem motivos e explicações plausíveis de o porquê estava naquele lugar.

    Tonhão havia sido levado à Corregedoria. Havia horas que prestava depoimento sobre as causas e tendo que revelar tudo ou o pouco que sabia do delegado. Embora falasse a verdade, a Polícia Federal também enviara dois homens para acompanhar o interrogatório, que, todos ali, muito embora, o investigador não mentisse, não estavam acreditando em meia-dúzia de palavras que ele informava.

    Foi tudo muito tenso. Débora fora impedida de acompanhá-lo, e estava às voltas com o delegado que também estava muito irritado com a situação. Embora tudo que falava estava de acordo com as declarações de seu parceiro, uma grande centelha de dúvidas perpetravam as mentes dos policiais. O delegado colheu o depoimento dela no mesmo local. Pegou o laudo da perícia e esfregou na cara da investigadora.

    “Olhe. Tudo isto não bate com o modus operandi do Palhaço, Débora. Meu Deus, o que vocês faziam com um homem desaparecido e procurado pela PF? Vocês estão se comportando como crianças. Amanhã cedo vou relatar tudo, a além do mais, também serei ouvido na Corregedoria. Estou ferrado. Não sei se devo confiar em vocês ou mandar prendê-los”.- exasperou o delegado que suava frio naquele momento, recorrendo a um dos seus calmantes para se manter equilibrado.

    Às duas da manhã, uma ordem de prisão preventiva tinha sido decretada contra Tonhão. Ele dormiria na carceragem da Corregedoria.

    Do outro lado, o corpo havia sido retirado. Débora recebeu a ligação do amigo informando de sua prisão. Estava arrasada, mas não destruída. Era uma mulher de fibra. Desligou o telefone e foi deitar-se.

    Fez uma ligação telefônica importante. Estava de ‘mãos atadas’ e sabia que o único modo de alterar toda àquela parafernália era ligando para uma pessoa. Planejou o amanhã. Cedo percorreria todo o trajeto à procura de câmeras de segurança. Tinha que ajudar o amigo. A polícia, nestas horas, abandona os seus.

     

    Três horas antes.

    A campainha soou. Era tarde e dona Amélia já estava na cama.

    O som estridente alarmara-a. Seria seu filho, pensava enquanto caminhava vagarosamente até a porta da sala. Estava um tanto quanto atrapalhada ao andar devido aos remédios que tomava antes de se deitar. Seu erro foi não ter pensado antes de abrir a porta.

     

    Antes de o sol abrir o leque da manhã, Débora já estava em uma das padarias que ficavam próximas a residência. Pegou os DVDs e vasculhava um por um. Sem sequer se preocupar que teria que estar na delegacia, desligou o celular para não ser incomodada. Até a hora do almoço chafurdara em uma centena de casas e comércios, tudo, sem êxito. Quando estacionou o carro defronte a casa de Tonhão, sentiu um arrepio. Olhou para cima.

    Bingo.

     

    Na corregedoria, o clima ainda estava tenso. O delegado havia prestado depoimento e depois foi até a cela onde estava o investigador Tonhão. Acabrunhado num canto, ele era a visão do desgaste de uma noite passada às claras. Abriram a cela e o delegado entrou. Visivelmente constrangido os dois se entreolharam.

    Por um instante nenhum deles teve vontade de falar.

    O delegado notara as feições do seu funcionário, que ele tanto admirava, muito embora ainda estivesse há poucos meses na chefia da delegacia.

    Quando foi dizer algo, um homem alto, branco, com barba por fazer, usando um boné vermelho, camisa polo, calças de brim e com um corpo quase submerso em tatuagens bateu nas grades e mandou o carcereiro abrir a porta.

    Seu jeito de andar era típico de alguém que aparentava ainda estar em seu auge físico, mesmo com a idade ultrapassada para isso. Ele entrou e foi até Tonhão, sem ao menos olhar ao lado para o delegado.

    “Levante cara. Você sempre foi o meu melhor.”

    O delegado se levantou, ajustou a gravata e quando foi inquirir quem era àquele homem, o delegado-chefe da Corregedoria já estava na porta.

    “Creio que vocês não se conhecem. Delegado, este é Jean Paulo Belmondo, ex-chefe de polícia civil”.

    Os olhos do delegado se arregalaram. Ele conhecia a trajetória daquele homem, mas nunca havia visto-o de perto. Pensou em estender a mão, mas voltou atrás.

    Tonhão estava abraçado com o velho amigo de longos anos. Os amigos na polícia são raros, mas quando eles existem ninguém mede as consequências.

    “Vamos pra rua, Tonho. Chega de ‘bater cabeça’ por causa de um imbecil fantasiado. Agora eu estou no jogo.”

     

    Ding-don. Ding-don.

    Um carteiro entregava à Debora na delegacia uma pequena caixa. Ela abriu e assustou-se com o Palhaço saindo da caixa com uma foto na mão.

    “Meu Deus, não.”

     

     

     

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