A desigualdade entre povos, e, subsequentemente, entre os homens não vem de hoje. Há centenas de anos assistimos as desigualdades sociais alavancando cada vez mais no mundo, não só no Brasil. Vivemos a Era da Pós-Industrialização e com ela, acompanhada a falta de um horizonte mais amplo e menos desigual.
Apesar dos avanços tecnológicos dos últimos tempos, de uma sociedade que cresce assustadoramente aos milhões, não se nota nada de diferente do que foi o século anterior. Vivemos com mais tecnologia, mas padecemos da mesma doença social: a desigualdade entre pobres e ricos.
O Papa João XXIII, em sua esplêndida Encíclica “Mater et Magistra”, nos coloca no horizonte de um profundo pensar sobre a sociedade, sobre os recentes avanços da questão social daquela época. As transformações que, antes eram paulatinas, hoje, estão em ritmo acelerado, acima do suportado pelo próprio tempo cronológico.
Na Encíclica que marcou seu Pontificado, João XVIII, exalta: “Salários insufucientes ou de fome, condições de trabalho exaustivas, inumanas”. Tudo isso escrito no fim do século XIX.
O que mudou nos tempos atuais?
O Papa emérito, Bento XVI salientou sobre o perigo das fomes e o aumento desproporcional entre ricos e pobres. João XXII destaca ainda que embora tenhamos as descobertas da ciência, padecemos socialmente. Um Papa de dois séculos atrás, já previa o que vivenciaríamos atualmente: condições de vida sub-humanas.
As estruturas de trabalho, o sistema econômico comprometem a dignidade humana, salienta o Papa. João XXII àquela época já cobrava mais “vozes”para o povo trabalhador, exaltando que não bastava regulamentacões trabalhistas, mas era preciso também dar “voz”concretamente para que os trabalhadores pudessesm estar em pé de igualdade social e economicamente.
Não obstante, o que cobramos de nossos governos atualmente, como serviços públicos de qualidade, na época João XXIII já pedia.
Estamos tão atrasados no quesito social, que, ainda lutamos por condições que eram pertinentes a dois séculos atrás, ou seja, socialmente não saímos do lugar. Permanecemos estagnados olhando o tempo passar.
Paulo VI, em 1967 publicou a Encíclica Populorum Progressio, ‘sobre o desenvolvimento dos povos’. Nela ele exalta a injustiça social que deriva da injusta distribuição da riqueza que representa “a forma mais evidente do subdesenvolvimento moral”, bem como, a real necessidade de tirar o homem do sufocante aparelhamento da alienação.
Ele classifica a sociedade do século XX, como uma população em busca exclusiva do “TER”.
Para o homem se libertar da alienação do “TER”, Paulo VI qualifica que é necessário alfabetizar o mundo, porque “um analfabeto é um espírito subalimentado”.
Dois séculos depois o que vemos nada mais é do que o pior. Tudo que fora escrito anos atrás permanece uma verdade inaudita. Vivemos e corremos como se a vida fosse uma disparada para quem chega na frente. Não temos estrutura social adequada; sobrevivemos no limbo que o próprio homem criou e teremos um futuro muito diferente daquilo que seria o ideal.
A fome e as desigualdades sociais continuarão, e, com ela, a violência que explode pelos quatro cantos. As drogas que se espalham em ritmo alucinante, ao ponto de vermos homens como ‘zumbis’ zanzando pelas ruas. E é este desamparo e falta de planejamento e qualidade de vida que levar-nos-á, a uma esfera de destruição social. Afinal como dizia Sêneca: “Nenhum vento é favorável para um marujo que não sabe onde ir".
André Guazzelli é jornalista
*Bibliografia:DeMassiDomenico.,OfuturoChegou,SP:casadapalavra,2014.