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    Contos do Zé #15 - Ondas eletromagnéticas

    1759 Jornal A Bigorna 20/04/2020 17:00:00

    Palanque do Zé

    Felisberto trabalha com o conserto de aparelhos de rádio, sua grande paixão. Como esse é um ramo praticamente extinto, também instala sons barulhentos e copiosamente modernos nos carros das pessoas.

    Mas ele, particularmente, sempre teve dificuldades para entender a necessidade que as pessoas tem por entradas USB, ondas bluetooth ou programas de música tipo Spotify, Deezer ou Apple Music.

    Para ele, os podcasts tem um único objetivo: Enterrar de vez a Era de Ouro do Rádio. Ele jamais trocaria a sua coleção de LP's por qualquer dessas porcarias modernas tocadoras de MP3.

    Mas nos últimos tempos, é justo dizer, Felisberto não tem ouvido muita música ou seus programas de rádio favoritos.

    Ele tem tentado falar com os mortos por meio da estática produzida pelo seu equipamento.

    Não ser casado e não ter filhos ajuda bastante nessa pesquisa, pois ao chegar em casa, não precisa dar atenção para ninguém e muito menos fazer janta.

    Seu ritual é muito simples: Chega em casa, bota ração pro Esso, o seu gato que fora batizado em homenagem ao Programa Repórter Esso, toma banho, descongela alguma coisa pra comer e vai direto para a sua aparelhagem de som.

    Enquanto devora o jantar, espera as válvulas do rádio esquentarem e sabe que elas já estão prontas quando o ruído da estática fica audível. Antes, ele lhe incomodava muito, mas não agora.

    Ele, há anos, tenta contato com os mortos por meio desse método, que é chamado de Fenômeno da Voz Eletrônica. Na verdade, tudo começou por mero acaso, quando disse em voz alta:

     

    • Essa canção é pra você, mamãe! Elvis não morreu.

     

    Felisberto não esperava resposta, pois sua mãe havia morrido cerca de quinze anos antes, mas mesmo assim ela veio através das caixas de som:

     

    • Nenhum de nós morreu, filho. Quando deixamos o nosso corpo, é que voltamos para a vida eterna!

     

    Como não esperava nada parecido com aquilo, o solitário Felisberto ficou sem ação e nada tentou para continuar com a conversa.

    Mas conforme os meses foram passando lentamente, ele sentiu que precisava voltar a falar com sua Mãe, afinal, ela era a pessoa que ele mais amava no Mundo!

    Mas todos aqueles anos de trabalho árduo e meticuloso foram em vão. Quando já estava prestes a desistir, foi a um Centro Espírita e contou sua experiência sobrenatural.

    Ao perguntar quando a experiência se repetiria, lhe foi respondido que "o telefone não toca de cá para lá, mas sim de lá para cá". Isso o reanimou, apesar de ser uma resposta bem vaga.

     

    Certa noite, após repetir mecanicamente o seu ritual, pensou ter ouvido alguma coisa, mas de repente tudo parou. Já em vias de desespero, disse em voz alta:

     

    • Mãe, é você?

     

    E a resposta não tardou.

     

    • Claro que sim.
    • Meu Deus, finalmente!
    • Estou sempre com você, mas nem sempre me é permitido falar.

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